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Talvez você não leia esse artigo até o fim, mas vai ficar tudo bem

Em tempos de crise de atenção, o significado do SXSW para Talquimy pode ser resumido em uma palavra: possibilidades. Mas, se sua leitura chegou até aqui, as chances de alcançar o momento Chico Science aumentaram

Apesar do mundo sem telas, a presença do blockchain em várias indústrias, viagens espaciais, aviões autônomos e inteligência artificial, podemos dizer que a SXSW deste ano não focou em um distante futuro tecnológico, mas teve como eixo a discussão valiosa sobre para onde caminham as relações humanas em meio a tudo isso.

No encontro realizado pela Mckinsey com executivos brasileiros que participavam do evento, a percepção geral confirmou que o festival foi muito mais sobre comportamento do que tecnologia. Romeo Bussarelo, diretor de marketing da Tecnisa, e professor do Insper, FIA e ESPM, compartilhou sua sensação de que vivemos uma transição do “show me the money” para o “show me the meaning”.

O pessoal de Jet Propulsion da Nasa destacou esse valor do “meaning”. Ao apresentarem seus esforços de comunicação para divulgar a missão de marte, os participantes do painel reforçavam que não há um grande salto para humanidade no espaço, se não soubermos comunicar o sentido disso tudo para o povo aqui da terra.

Falando assim, até que uma agência de comunicação e uma agência espacial não são tão diferentes. Ambas enfrentam o desafio ordinário e imprescindível de dar forma para narrativas de valor.

Essas sinapses renderam muitos aprendizados, mas vou focar em 3 coisas, já muito presentes na rotina da Talquimy, que inspiram evoluções.

Como lidar com diferentes níveis de atenção das audiências que ativamos?

Há tempos se anuncia que vivemos uma transformação. Talvez estejamos no ápice desse movimento e, desta vez, o que está impulsionando isso não é uma nova rede social, mas a real disponibilidade da atenção das pessoas.

Com uma teoria interessante, Alex Chung, criador do Giphy, profetizou o fim do conteúdo, mas, na real, sua apresentação destacava um mar de oportunidades. A premissa é que a atenção das pessoas, disponível em abundância, é superficial, mas acredite, não há mal nenhum nisso. Para navegarmos nesse cenário, mergulhamos de cabeça na produção de micro-conteúdos não textuais.

Puxando a sardinha para o lado dele, Chung fala sobre sua proposta de uma espécie de “Netflix” para gifs originais, mas esse é só um exemplo, pois os caminhos são vários, basta encararmos a limitação dos poucos segundos que as ideias surgem.

Por outro lado, a conquista da atenção mais profunda também seguirá sendo necessária, exigindo novos estímulos para cativá-la. E aí VR amadurece como um caminho concreto. Nonny de la Peña, e seus incríveis projetos jornalísticos, traz uma aplicação de impacto para a realidade virtual, muito além do entretenimento. Nonny também apontou caminhos para a viabilidade, afinal envolvemos óculos, câmeras e computação gráfica, mas seu sinal indica que não estamos mais restritos a budgets estratosféricos para fazer acontecer. Enfim, tendo “meaning”, o “money” aparece.

Por fim, se estamos falando de outros estímulos para fisgar a atenção dos mais variados níveis, não podemos esquecer do papel do som. Aqui, ressurgem os podcasts. A Marvel com “Wolverine: The Long Night” e o divertido Ira Glass com seu “This American Life” mostraram a força do formato para atender os mais diversos níveis de atenção.

Cultura de dados

O segundo assunto é sobre o mundo dos dados. O Big Data já foi notícia e a questão não é mais como obtemos e processamos informação em escala. O ponto é como empresas e pessoas se comportam nessa realidade de muitos dados disponíveis e quais serão os rituais e códigos de conduta para um bom uso disso. Em diferentes esferas da vida, a questão é como vivemos uma Cultura de Dados com diretrizes claras sobre captação, armazenamento e compartilhamento.

O relatório de tendências da Fjord trata, entre muitas coisas, sobre a importância do cuidado nessa captação, reforçando os riscos inerentes a privacidade. Enquanto o painel de Blockchain e Liberdades Civis enfatizou como as inovações tecnológicas, baseadas em uma forma não centralizada de validação de dados, dependem de um conjunto de comportamentos para se consolidarem.

A maneira de compartilhar esses dados também foi um tema bastante presente, não faltaram mesas sobre data storytelling, com cases bacanas de data visualization. Na discussão, com The Pudding, Viacomm e Datawheel, ficou evidente o valor da combinação de dados com arte para converter informações em histórias de impacto.

O valor do processo

Por fim, muito mais do que uma agenda de atividades, o SXSW é uma aula sobre processos para gerar conexões. Passando por um circuito de mais ou menos 30 palestras, encontros, filmes, shows, barrinhas de cereais, briskets, papos com clientes e pessoas aleatórias, você vai descobrindo o mecanismo que rege o festival e segue criando o seu jeito para se aproveitar dele.

O caos é muito bem pensado e o processo para explorá-lo já em si é muito gratificante. A frase “teste, aprenda e adapte”, que esteve estampada na apresentação de Jeff Taylor, Product Marketing do Instagram, bem que poderia estar na entrada de Austin, como uma saudação de boas vindas.

Fazendo uma conexão, bem ao estilo do evento, é importante lembrar que boa parte desse caos de conteúdos se intensificou em 1994, quando o SXSW incluía sua divisão de tecnologia, hoje a famigerada “Interactive”, palco de grandes nomes da inovação.

Nesse mesmo ano, do outro lado da América, Chico Science, um dos compositores brasileiros mais caóticos que se tem notícia, apresentava ao mundo o disco “Da Lama ao Caos”, onde entoava “que eu me organizando, posso desorganizar, que eu desorganizando, posso me organizar”. Chico Science nunca foi ao evento, mas esse seu pensamento daria um ótimo painel. Quem sabe na próxima edição? Até lá.

* Este artigo foi publicado originalmente no Linkedin em 28 de março de 2018


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