por: Leticia Lyra

Era da informação ou do entretenimento?

“I have a liberal definition of news because I think news can be what excites people. I’m not very sanctimonious about what news is and isn’t.”*
Diane Sawyer

Em 1982, o New York Times publicou o seguinte artigo: Why TV News Is Increasingly Being Packaged As Entertainment. Ele falava das mudanças que estavam acontecendo nas grandes redes de TV americanas, sobretudo no noticiário, que incluíram desde o time de editores às roupas dos âncoras. O motivo era que o dinheiro vindo dos programas de notícia estava crescendo e assim, crescia também a pressão para que eles fossem mais populares e interessantes. Então as notícias tinham que ser mais atraentes e trazer mais audiência.

1982. Trinta e sete anos atrás. E já se falava de como preparar as notícias para engajar mais as pessoas e, em certa medida, entretê-las. Isso talvez explique o ponto em que chegamos hoje, afinal, a prática se desenvolveu, evoluiu, e “domesticou” a todos nós, que hoje consumimos notícias da mesma forma que consumimos séries, memes, GIFs e outras diversões que as várias mídias nos oferecem.

O artigo fala que o custo pago por isso era um jornalismo menos apurado, mais superficial e sensacionalista, e mais orientado por audiência do que pela própria essência da atividade. Isso em 1982. Hoje, poderíamos ir bem além. Acompanhamos o ciclo de notícias da mesma forma que acompanhamos qualquer outro conteúdo, transformando fatos e acontecimentos em séries com vários episódios, onde comentamos o último e esperamos pelo próximo; sabemos que rapidamente algum deles vai virar meme; e logo passaremos para o próximo.

Olhando para todo o universo da comunicação e todas as mídias e plataformas que criamos, isso pode ficar um pouco confuso. Por um lado (bom), nós rompemos barreiras e estabelecemos conversas com espectadores, consumidores, opinião pública, de uma maneira mais direta, horizontal e verdadeira. Pessoas, marcas e instituições estão na mesma arena e trocam como nunca antes. Por outro lado (não tão bom), as fake news ganharam força, notícias sofrem constante especulação, pessoas, marcas, instituições são atacadas e se sentem, em muitas vezes e por diferentes motivos, perdidas. 

Temos tantas opções de gerar informação, entretenimento, consumo, fazer as conversas acontecerem. Então, por que parece que tudo virou uma coisa só? Será mesmo que queremos ser entretidos o tempo todo, ouvir e contar histórias indefinidamente? Viver um eterno Show de Truman?

Isso tem que ser um novo desafio e não um desalento. Criamos muitas ferramentas, visões, abordagens, formas de nos comunicarmos. Está na hora de partirmos para o próximo nível. Passaram-se 37 anos e o tempo não para. 


*”Eu tenho uma definição liberal do que é notícia porque acredito que notícia é aquilo que empolga as pessoas. Não sou muito hipócrita sobre o que é ou não notícia.”

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