Agronegócio: resiliência e novos caminhos em meio à COVID-19
Jhennifer Moises, Talquimy*
O agronegócio brasileiro se mostra um setor resiliente em meio ao momento desafiador imposto pela COVID-19. Com uma safra recorde de grãos[LL1] , já com venda antecipada, o segmento deve ser o responsável por dar um respiro à economia brasileira em 2020, ano já considerado perdido em muitos setores.
No início do ano, o setor de agronegócios previa crescimento geral entre 3,2% e 3,7%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Para atravessar esse período de incertezas encontrou alternativas conhecidas, como renegociação de contratos e operação Barter, práticas asseguradas pelo Governo Federal, além de percorrer caminhos tecnológicos por meio de parcerias com startups, incentivadas por grandes empresas do ramo. Nesse contexto surgem também preocupações com a segurança dos alimentos e um novo consumidor: tudo isso faz com que práticas, adotadas para conter os efeitos da pandemia, possam se tornar permanentes.
Safra abundante
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)1, o coronavírus não afetou a safra brasileira. O 7º levantamento da Safra mostra que as atividades no campo seguem, com os cuidados indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde (MS). Dessa forma, a produção de grãos ultrapassou os 251, 9 milhões de toneladas2, indicando níveis recordes de colheita.
Destaque para a soja que deve atingir uma produção de 112,1 milhões de toneladas, o milho chega logo em seguida com uma previsão de 101, 9 milhões de toneladas. Unem-se à oleaginosa e ao cereal, o algodão, o arroz, o feijão e o sorgo: eles são responsáveis pela safra abundante. Só para o algodão, prevê-se a maior produção já registrada na série histórica, com colheita estimada em 2,88 milhões de toneladas da pluma.
Os resultados positivos são decorrentes da venda antecipada da safra, o que garantiu segurança.
Recursos tecnológicos apontam novas perspectivas
Não é de hoje que a tecnologia e o agronegócio veem que um pode se beneficiar do outro. Em 2016, o país experimentava o surgimento dessas empresas que se concentram em Piracicaba, interior de São Paulo, polo agronômico do Brasil.
Agora, quatro anos depois, elas assumem um papel importante na ajuda aos produtores rurais. Por isso, a iniciativa “Desafio Covid-19 – Soluções digitais para o agronegócio”, idealizada pela Bayer, seleciona jovens empresas de tecnologia capazes de proporcionar auxílio aos problemas decorrentes do novo coronavírus, principalmente questões relacionadas à logística, relações trabalhistas e fluxo de caixa, comercialização da produção, atendimento e assistência remota e acesso a insumos e crédito de maneira digital3. As primeiras dez já foram selecionadas 4, 5.
Outro exemplo de inovação vem da Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). As duas instituições lançaram uma plataforma online que une produtores, consumidores e quem pode entregar os produtos6. O objetivo é conectar todo o ecossistema de hortifruti, pescados e flores e a ideia é que não seja algo transitório, tornando-se uma solução permanente7.
Vale destacar, também, a empreitada “Pertinho de Casa[LL2] ”, liderada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). O site aproxima produtores rurais, pequenos varejistas e consumidores para ajudar a atividade local dos bairros e é um projeto sem fins lucrativos, com apoio da Accenture, Facebook, PagSeguro, VTEX e Yami8.
Trata-se de um momento para aumentar a acessibilidade da tecnologia no campo e fazer com que recursos inovadores alcancem até os microempreendedores, que não estavam inclusos nessa revolução digital.
Novos tempos e soluções conhecidas
Velhos aliados também se somam à força-tarefa que o agronegócio está estruturando. Renegociações de contratos e operações Barter também protagonizam as estratégias de apoio, assim como maior disponibilidade de crédito, principal preocupação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Nesse mesmo intuito, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou as instituições financeiras a prorrogarem o pagamento do crédito e dos investimentos dos produtores rurais afetados pela crise da COVID-19; essa medida vale até 15 de agosto de 2020 10 e 11.
Outra ação do Governo Federal que irá auxiliar é a nova Lei do Agro, que prevê fundos solidários, permite dar patrimônio como garantia aos empréstimos rurais, garante o pagamento do empréstimo com a produção, entre outras ações de alento para que as dívidas agrícolas sejam renegociadas12, incluindo a criação do Fundo de Aval Fraterno (FAF), que garante aos produtores renegociação das dívidas de operações de crédito rural.
Segurança alimentar
Esse quesito sempre foi uma preocupação, mas foi colocado sob holofotes mais intensos com o novo coronavírus. Diante do cenário, algumas mudanças vieram para ficar9:
- Mais preocupação com as condições sanitárias: colocada no centro como uma das formas de prevenção do coronavírus, tudo indica que a higiene irá passar por protocolos cada vez mais rígidos de avaliação;
- Rastreio dos alimentos: agora, mais do que nunca, o consumidor vai querer saber qual é a origem do alimento que consome;
- Comportamento do consumidor: mais qualidade e menos quantidade. As pessoas estão consumindo com mais consciência durante a crise, o que deve se refletir depois que os efeitos da crise passar.
Todos os setores da economia estão se reinventando e traçando estratégias, algumas inéditas, para seguir e reduzir o impacto que uma pandemia pode causar, principalmente em países em desenvolvimento. O agronegócio nacional se ampara em modelos antigos e novos para continuar e se adaptar às demandas que o contexto mundia
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Referências:
1) https://cast.conab.gov.br/?name=2020-04-09_7_levantamento_graos.mp3
3) http://www.agtechgarage.com/desafio-covid19/
4) http://www.startagro.agr.br/desafio-covid-19-divulga-segunda-leva-de-startups-selecionadas/
5) http://www.startagro.agr.br/desafio-covid-19-divulga-primeiras-agtechs-selecionadas/
6) http://mercado.cnabrasil.org.br/
