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Os Jogos Olímpicos ainda são um bom negócio para as cidades?

Sediar uma Olimpíada costumava ser um bom jeito de reapresentar a cidade para o mundo. Mas parece que essa ideia tem mudado.

Rebranding das cidades com as Olimpíadas

O site oficial dos Jogos Olímpicos tem páginas dedicadas para explicar os benefícios de se sediar uma edição da competição. Dados econômicos e sociais explicam os benefícios projetados até para edições que ainda não aconteceram. Uma espécie de propaganda para um evento que já viu dias melhores, pelo menos no que diz respeito à vontade das cidades em sediar uma Olimpíada. O que era uma maneira de mudar a imagem de uma cidade ou país com uma ferramenta de soft power está se tornando uma despesa extra em uma conta que, muitas vezes, não fecha.

O impacto econômico de megaeventos como os Jogos Olímpicos em economias anfitriãs é amplamente debatido, com estudos que apontam que as previsões otimistas de crescimento econômico raramente se mostram verdadeiras. Isso porque o histórico de gastos para sediar uma edição dos jogos, sejam de verão ou de inverno, tem se demonstrado crescente desde os anos 1960, aumentando em muito a cada edição (Sochi, que sediou a Olimpíada de Inverno de 2014 teve o custo mais alto da história, em USD$51 bilhões; Beijing em 2008, custou USD$40 bilhões). A preocupação com o legado de uma série de “elefantes brancos” afeta a todas as cidades-sede, além da criação de espaço para gastos extras. Mas então por que sediar uma edição dos jogos? Porque é uma maneira de forçar a cidade em uma nova direção, dando impulso administrativo, turístico e cultural. 

Neste sentido, os Jogos Olímpicos de Paris tentaram imprimir na cidade uma imagem de preocupação com o meio-ambiente e a sustentabilidade do próprio evento. Com um custo estimado de gastos de menos de USD$10 bilhões, o Comitê Olímpico e a cidade uniram esforços para tentar aproveitar ao máximo a infraestrutura já disponível na cidade, além de tentar cortar a emissão de carbono pela metade, em comparação aos jogos anteriores e incentivar o uso de materiais como madeira e concreto com pouco carbono. Ficou famosa a imagem da prefeita Anne Hidalgo nas águas do rio antes dos jogos para provar que o investimento valeu a pena e que as competições de modalidades aquáticas não teriam problema em acontecer no rio mais famoso da França, que seria despoluído.

Na prática, isso funcionou até a página dois: apesar dos esforços, atletas enfrentaram problemas de saúde com a água do Sena, o que afetou o planejamento de competições como a de triatlo, a Vila Olímpica se provou muito abaixo do esperado, com banheiros fechados e falta de alimento por parte do catering e a cidade sofreu com serviços básicos mal dimensionados, como atrasos no transporte de atletas, sistemas de ônibus e trens com problemas e até aumento nos furtos. Tudo sob uma onda de calor descomunal. 

Comparando os Jogos de Paris, a edição brasileira passou por uma experiência similar, ainda que mais cara — custando R$ 43,75 bilhões (cerca de USD$13 bilhões). Segundo o relatório “Legado dos Jogos Olímpicos Rio 2016: Impactos Econômicos” organizado pela Fundação Getúlio Vargas e publicado em Julho de 2024, o evento arrecadou R$ 99 bilhões em Valor Bruto da Produção e R$ 51,2 bilhões no PIB (Produto Interno Bruto), movimentando uma cadeia produtiva que envolveu diversos setores. Melhorias como o VLT, a revitalização da antiga zona portuária (com a implosão do viaduto da Perimetral) e os corredores de ônibus articulados melhoraram a mobilidade urbana e trouxeram à cidade novos espaços que hoje recebem eventos de diferentes áreas, além de fazerem parte do roteiro turístico de uma das cidades mais visitadas do planeta, tudo realizado em um momento de bastante instabilidade política no país, diante do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e da preocupação, à época, com o zika vírus. 

Em um artigo publicado na Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, a percepção do impacto Olímpico para a cidade e a criação de um ideário de imagem mais moderna, que se apresenta com a oportunidade de sediar os Jogos Olímpicos, aparece para a população da cidade justamente na mobilidade urbana e aumento do turismo na capital fluminense, apesar dos deslizes de gestão apresentados ao longo dos anos e de diversas infraestruturas que ficaram abandonadas após os jogos. 

No fim do dia, sediar uma edição dos Jogos Olímpicos é uma decisão muito arriscada, uma oportunidade de rebranding caro. Todos os fatores contam na hora de colocar na balança se o investimento financeiro será convertido nos planos da cidade, independente de qual seja a direção que eles caminhem. O evento é uma oportunidade única de demonstração de soft power, de aparecer para o mundo como uma cidade segura, bem estruturada, aberta culturalmente. 

Cidades como Los Angeles, por exemplo, que já sediou uma edição dos Jogos e será a sede do próximo novamente, usaram com sucesso a infraestrutura deixada pelos jogos. Barcelona aproveitou a missão para revitalizar alguns dos seus bairros e praias. Outras cidades acabam enfrentando dificuldades na gestão do tal legado olímpico após o fim do evento. Paris foi a primeira experiência em que, objetivamente, se tentou fazer um evento de alto impacto, mas com baixo custo. Resta saber se essa cultura e os aprendizados do evento permanecerão na cidade ou acabarão no fim do evento, ao sabor da política.

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