Por que duas empresas que poderiam ser concorrentes ou que atuam em segmentos diferentes decidem trabalhar juntas?

A resposta é simples: ganhar relevância e gerar valor para seus públicos de forma criativa. Esse movimento é conhecido como collab, abreviação de collaboration (colaboração).
Quando bem planejada, uma collab pode transformar a percepção de uma marca, aumentar a visibilidade e até abrir novas oportunidades de negócios. E o mais interessante é que não se trata de uma moda passageira. Trata-se de uma estratégia que já faz parte do manual de muitas empresas grandes ou pequenas.
Por que collabs funcionam (quando funcionam)
Collabs não são exatamente novas. O co-branding (quando duas marcas se unem para desenvolver um produto ou ação) existe há décadas, com exemplos clássicos como Nike + Michael Jordan (1984) ou GoPro + Red Bull (2016). A novidade é a forma como elas se tornaram elementos centrais da estratégia de branding.
Há um motivo estrutural. Desde 2020 vivemos uma economia de fragmentos, em que audiências se organizam em microcomunidades digitais com interesses específicos. A consultoria WGSN aponta que colaboração, cocriação e parcerias múltiplas são respostas para reconstruir confiança e acelerar inovação num mundo de tensões geopolíticas e isolamento. Mais do que campanhas, trata-se de alinhar valores com as expectativas dos consumidores.
As collabs costumam acionar gatilhos comportamentais potentes como:
- Escassez e urgência – edições limitadas criam desejo imediato;
- Novidade e surpresa – misturar universos distintos desperta atenção;
- Nostalgia – memórias afetivas reforçam a conexão emocional;
- Prova social e pertencimento – o público legitima que aquilo “é para nós”;
- Sinalização de identidade – consumir a collab se torna um marcador cultural;
- Curiosidade – a famosa sensação de “preciso ver como isso ficou”.
Quando esses elementos encontram sinergia real de marca e execução criativa, o resultado costuma ser positivo.
Exemplos de collab que chamaram atenção
Algumas collabs recentes ilustram bem por que essa estratégia continua em alta:
- Ruffles + Milky Moo: a mistura de batata chips com sabor de milk-shake pode parecer improvável, mas justamente por isso chamou atenção. Essa collab aciona os gatilhos de curiosidade e novidade, gerando buzz espontâneo nas redes sociais.
- Cimed + Coca-Cola: a farmacêutica e a gigante de bebidas se uniram para lançar produtos que conectam saúde e lifestyle. A força dessa parceria está no alinhamento de propósito, mostrando que marcas de universos distintos podem criar pontos de encontro para atrair novos públicos.
- Omo + Desgosto (marca de roupas): ao unir um sabão em pó, símbolo de limpeza, com uma marca jovem e fashion, a collab explora códigos culturais diferentes, criando uma narrativa ousada que gera conversa principalmente com o público jovem.
- Lego + Star Wars: um dos casos mais icônicos. Aqui temos nostalgia + pertencimento: adultos que cresceram com Star Wars e crianças que amam Lego encontram na collab uma ponte perfeita entre gerações, transformando o produto em objeto de desejo duradouro.
O que une esses exemplos é que todos conseguiram traduzir valores e interesses do público em experiências criativas, seja pelo inusitado, pelo emocional ou pela identidade cultural.
O que está por trás de uma collab bem-sucedida
Para que uma parceria entre marcas funcione, alguns pontos são essenciais:
- Propósito claro e alinhado – A parceria precisa ter um motivo que faça sentido para os dois lados. Não basta apenas “juntar forças” por marketing; o público percebe quando a ação é vazia.
- Sinergia entre os públicos – O público-alvo (as pessoas que cada marca deseja atingir) precisa ter alguma conexão. Não precisa ser exatamente o mesmo, mas é importante que haja pontos de encontro entre eles.
- Criatividade na execução – Quanto mais inusitada for a ideia, mais chances ela tem de chamar a atenção. Muitas collabs se tornam inesquecíveis justamente pela surpresa que causam.
Nesse contexto, as collabs se tornam uma forma eficiente de:
- Aumentar a relevância: duas marcas juntas geram mais atenção do que separadas;
- Gerar conversa: a novidade desperta curiosidade e engajamento;
- Atrair novos públicos: cada marca apresenta a outra para sua comunidade.
E o melhor: não é preciso ser uma gigante global para apostar em nas collabs. Pequenas e médias empresas também podem se unir para lançar um produto exclusivo, criar eventos em conjunto ou até produzir conteúdo colaborativo.
O segredo é encontrar parceiros que compartilhem valores semelhantes e que, juntos, possam oferecer algo realmente interessante para o consumidor.
As collabs não são apenas uma estratégia de marketing passageira. Elas representam uma forma de construir relevância, conexão e valor em um mercado que exige cada vez mais criatividade.
Afinal, quando duas marcas se unem, não é apenas 1 + 1. O resultado pode ser muito maior e é exatamente isso que encanta o público.