Como a falta de conexões reais está fazendo surgir um novo-velho jeito de se pensar e fazer social media.
De tempos em tempos, alguém mata as redes sociais. Isso faz parte da cultura da internet desde que o New York Times publicou aquele texto que falava sobre as pessoas saindo do Facebook, isso em 2009. De lá pra cá, essa ideia é ventilada de tempos em tempos, apesar do crescimento constante das plataformas. A afirmação de que “as redes sociais estão morrendo” não se sustenta diante dos dados, que mostram mais de 5 bilhões de usuários ativos globalmente, conforme este estudo do Data Reportal. A questão sobre o futuro (e o presente) das redes sociais não se trata, então, de abandono de uso. O que tem acontecido, na verdade, é uma busca por conexões reais. E isso está fazendo surgir um novo-velho jeito de se pensar e fazer social media.
Recentemente, a The Atlantic viralizou (olha, que ironia) com um texto em que o repórter explicava porque ele tem odiado o Instagram. O argumento do repórter faz sentido: originalmente uma plataforma para compartilhar momentos com amigos, o Instagram se transformou em um obstáculo para essas conexões. O autor relata a frustração com a evolução do aplicativo, que passou a priorizar a exibição de conteúdos virais, como “Reels”, ao invés das postagens de amigos e familiares. Visando, claro, aumento nos lucros, a plataforma desvia a atenção dos usuários para vídeos curtos e envolventes, promovendo uma experiência que, embora cativante, aliena o propósito inicial de conexão pessoal.
Em um texto de seu blog, a consultoria digital Broad discute a crescente conscientização dos jovens da Geração Z sobre o impacto negativo do uso excessivo de redes sociais em suas vidas, especialmente em termos de saúde mental. Com o envelhecimento dessa geração, agora adulta, a pressão social para estar constantemente conectado diminuiu, permitindo que muitos optem por reduzir seu tempo online. Essa tendência sugere uma mudança na maneira como as pessoas, especialmente os mais jovens, estão priorizando seu tempo e suas interações online. Ou seja: a busca por uma nova forma de se fazer social passa também por questões geracionais e de saúde.
Em uma campanha recente, a Heineken fez uma provocação nesta direção ao lançar o Boring Phone, em parceria com a fabricante de celulares HMD. Uma versão modificada do Nokia 2660 Flip, a gigante das bebidas criou uma campanha em que incentiva as pessoas a se conectarem conversando pessoalmente, sem as distrações da internet e as dezenas de aplicativos disponíveis nos smartphones. Em 22 de julho, o dispositivo foi homologado pela Anatel, permitindo sua comercialização no Brasil.
A leitura da Heineken é certeira quando olha para este cenário em que vemos uma mudança sobre como enxergamos as redes sociais está diretamente ligado à busca por conexões reais. Mas quais são as redes sociais novas que investem em diferentes maneiras de socialização online, com mais foco no usuário? Listamos abaixo alguns exemplos.
NoPlace
O Noplace é uma nova plataforma de mídia social que recentemente se tornou popular ao abrir para todos os usuários, após um período de acesso apenas por convite. Apresentada como uma espécie de “MySpace para a Geração Z”, a plataforma permite aos usuários personalizar seus perfis com temas e cores, semelhante ao que muitos faziam no início dos anos 2000 em sites como LiveJournal e MySpace.
Cara App
Recentemente, a Meta começou a utilizar conteúdos postados no Instagram para treinar suas ferramentas de IA, o que gerou preocupação entre artistas. Muitos deles estão migrando para o Cara, que se apresenta como uma alternativa que protege as obras de arte contra o uso em treinamento de IA. Este aplicativo permite apenas conteúdos que estejam claramente rotulados como gerados por IA e protege as imagens com tags “NoAI”. O app cresceu rapidamente, com a base de usuários saltando de menos de 100 mil para mais de 300 mil em poucos dias, impulsionado pela preocupação dos artistas com a apropriação de suas obras pela IA.
Airchat
O Airchat é uma nova plataforma de mídia social que mistura elementos do Twitter e do Clubhouse, permitindo que os usuários postem mensagens de voz que são automaticamente transcritas. Fundado por Naval Ravikant e Brian Norgard, o app visa criar uma experiência mais íntima de interação online, permitindo que os usuários ouçam as vozes de seus seguidores ao invés de apenas ler suas palavras.
Um possível retorno do queridinho do Brasil
A antiga rede social Orkut, popular nos anos 2000, voltou a ser um dos temas mais comentados nas redes sociais depois que usuários brasileiros começaram a relembrar das comunidades que a plataforma oferecia.
Exatamente dentro do perfil de um novo social, buscando conexões reais, as comunidades do Orkut, que serviam como fóruns de discussão, uniam pessoas com interesses e ideais comuns. A nostalgia foi tamanha que o fundador do site Orkut Buyukkokten, comentou sobre um possível retorno da plataforma durante sua visita ao Brasil para a Rio Innovation Week.
Ele destacou o desejo de reviver o espírito autêntico e as conexões genuínas que o Orkut proporcionava, em contraste com as redes sociais atuais, dominadas por profissionais de marketing e influenciadores. Orkut não forneceu uma data exata para o relançamento, mas indicou que está trabalhando nisso e pretende incluir executivos de São Paulo no projeto.